quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Transtorno de Ansiedade Generalizada

EXTRA-EXTRA! EDIÇÃO ESPECIAL!

Meus queridos! Hoje é a postagem de edição especial de Neurotransmissores, Doenças Mentais e Drogas, para comemorar o 70º dia de nossa existência =) Em homenagem ao nosso veterano Caio, a postagem será temática, no estilo de uma entrevista jornalística! O assunto da postagem de hoje será: Transtorno de Ansiedade Generalizada, espero que gostem!

Repórter: “Hoje você disse que vai falar sobre o funcionamento do transtorno de ansiedade generalizada, mas antes disso, seria bom você nos dar uma melhor noção desse transtorno, principalmente porque muitas pessoas inclusive nunca ouviram falar desse transtorno! No que ele consiste?

Giratório: “O DSM-IV o conceitua como: “a predominância de um excesso de ansiedade e preocupação sobre vários acontecimento ou atividades na maior parte dos dias durante um período de, no mínimo, 6 meses”. Ou seja, se você passar um semestre cheio de preocupações, não consegue parar de pensar no que você precisa fazer, temos 2 hipóteses: ou você possui um Transtorno de Ansiedade Generalizada ou você é um estudante de medicina. Hehe, brincadeira! Um portador desse transtorno vive ansioso e angustiado a cerca de quase tudo o que faz em seu dia-a-dia, até mesmo o que ele vai comer no café da manhã pode ser motivo de muita preocupação. Frequentemente, essa preocupação e ansiedade excessivas se associam a sintomas somáticos, tais como irritabilidade, inquietação, tensão muscular e insônia. É uma sensação muito difícil de se ter controle, é perturbadora e compromete importantes áreas da vida.”


Repórter: “Além de perceber que o paciente está se preocupando excessivamente e tem estado muito ansioso, há outros meios que ajudam a confirmar o diagnóstico desse transtorno?”

Giratório: “Bom...Há um meio de diagnóstico que pode mostrar um indicativo, é a PET (emissão tomográfica de pósitrons), que consiste em um meio de diagnóstico por imagem capaz de mostrar regiões do corpo que estão com um maior metabolismo, caso estejam interessados para saber como esse aparelho funciona, explicamos isso no nosso blog! Basta acessar nas postagens do dia14/12/2010, está com o título Perguntas do Blog =) Voltando ao assunto, costuma-se mostrar uma baixa taxa metabólica nos gânglios de base (também falamos sobre eles em nosso blog! Basta olhar na outra postagem sobre o mesmo dia) e na substância branca. Analisando-se as imagens obtidas do paciente, podemos acrescentar ou retirar da lista de evidências para descobrir se ele tem ou não o transtorno.”

Repórter: “ O uso de drogas pode causar o transtorno de ansiedade generalizada?”

Giratório: “ Não, não há relação entre o uso de drogas e a ansiedade, assim como não há com uma condição médica geral.”

Repórter: “E esse transtorno é hereditário?”

Giratório: A ciência não se aprofundou muito nisso, mas há estudos genéticos que tem avançado nessa área: estudos de gêmeos relatam que se uma pessoa possui esse transtorno, seu irmão gêmeo possui chance de 50% (caso seja monozigótico) ou de 15% (caso seja dizigótico). Além disso, verifica-se que há relação genética entre o transtorno de ansiedade generalizada e a depressão em mulheres.


Repórter: “E como funciona? Há bases bioquímicas e/ou fisiológicas que tentam explicar a diferença do organismo de um portador para um não-portador desse transtorno?”

Giratório: “A Medicina, assim como muitas outras, é uma ciência que tem uma profunda base experimental. A eficiência terapêutica de certos fármacos pode contribuir para se determinar a fisiopatologia de uma doença, é como se a solução fosse responsável por descobrir a causa do problema. Para o Transtorno de Ansiedade Generalizada, tais fármacos são os benzodiazepínicos e as azapironas. Benzodiazepínicos são ansiolíticos (redutores de ansiedade), seu principal efeito é a potencialização de GABA (ácido gama-aminobutírico), o neurotransmissor inibitório primário do sistema nervoso central, está bem explicado no nosso blog como funcionam os neurotransmissores inibitórios \o. A buspirona [BuSpar] é uma azapirona, e é sabido que ela atua como agonista de um receptor de serotonina, têm-se, portanto, evidências de que o sistema serotoninérgico no portador esteja regulado anormalmente, uma forma de se regular tal sistema pode ser utilizando ISRSs (Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina), que tem apresentado melhora no quadro de alguns pacientes com o transtorno,  explicado com base no fato de que esses fármacos são capazes de aumentar as concentrações do neurotransmissor serotonina nas fendas sinápticas, uma vez que inibem sua recaptação. As principais áreas que apresentam evidências de envolvimento com o Transtorno de Ansiedade Generalizada são os gânglios de base, o sistema límbico e o córtex frontal. Há evidências também de que tais portadores podem ter sensibilidade reduzida de seus receptores de adrenalina e de noradrenalina.”

Exemplo de benzodiazepínico,utilizado no tratamento de ansiedade e estresse.


Repórter: “E além dos benzodiazepínicos, azapironas e ISRSs, há outros medicamentos eficazes para esses pacientes?”

Giratório: “ Sim, apesar desses serem os principais, posso citar como exemplo a Venlafaxina, que é eficaz no tratamento de todos aqueles sintomas somáticos que mencionei, mas não cura a ansiedade em si.. Além disso, há os tricíclicos (classe de anti-depressivos) e os antagonistas dos receptores de noradrenalina e adrenalina, que funcionam melhor para diminuir a ansiedade em situações específicas, como em momentos em que seu desempenho é avaliado, e não resolvem a ansiedade generalizada em si.”



 Imagem esquemática que mostra a venlafaxina atuando na sinapse química, impedindo a recaptação dos neurotransmissores noradrenalina e serotonina. Isso implica um aumento nas concentrações desses neurotransmissores.
NA: neurônio noradrenérgico
5-HT: neurônio serotoninérgico


Repórter: “Muito obrigado por sanar nossas dúvidas, agradecemos pela sua contribuição! Deseja falar mais alguma coisa?”

Giratório: “Queria agradecer à equipe entrevistadora e a todos que têm lido nossas postagens, esperamos contribuir para a formação de todos, e caso queiram sugerir novas formas de postagem, reclamar, elogiar, perguntar, sinta-se à vontade para tal. Estamos olhando nosso twitter todo dia, não esqueçam de nos seguir: @neuromed92 ! Um abraço a todos e um ótimo dia!”

Lucas Shiratori
MED92

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
- KAPLAN e SADOCK: Manual Conciso de Psiquiatria Clínica, 2008.
- DSM-IV
- CAMPBELL, Robert. Dicionário de Psiquiatria – 8ª Ed, 2009.
- PSIQWEB

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