quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A Cura do Autismo

     Boa noite, galera! Aqui quem escreve é o Vinícius novamente, e dessa vez eu vim fazer o post sobre a matéria que mais me chamou atenção nesse ano que passou, como havia prometido no post passado. Em novembro do ano passado (2010), o neurocientista brasileiro Alysson Muotri publicou na respeitadíssima revista Cell seu mais incrível trabalho: a cura de um neurônio autista.
     Antes de começar a explicar o trabalho em si, vou abrir um pequeno parêntese para falar sobre a Síndrome de Rett, que é uma das desordens do espectro autista. Foi essa a variação da doença que o doutor Muotri utilizou em suas pesquisas, já que é sabida a influência genética sobre tal desordem. A Síndrome de Rett é uma das mais graves do espectro autista, pois além dos problemas comportamentais, as crianças também apresentam dificuldades motoras progressivas. Ela é caracterizada por alterações no gene MePC2, importante no início do desenvolvimento humano. Como esse gene se localiza no cromossomo X, meninos (XY) que apresentam uma mutação nesse locus quase sempre morrem prematuramente, já que essas mutações tendem a ser incompatíveis com a vida. Meninas (XX), por sua vez, podem apresentar o erro somente em um de seus cromossomos, de forma que o cromossomo não-afetado compense o erro do outro até certo ponto. Dessa forma, a Síndrome de Rett é quase sempre atribuída a crianças do gênero feminino.
     Muotri decidiu, então, analisar o desenvolvimento e as características dos neurônios autistas em crianças com a Síndrome de Rett. Até então, porém, isso não havia sido feito no meio científico. As opções “normais” que o cientista tinha eram ou fazer os experimentos utilizando células de outros animais ou utilizar um tecido neural de um humano já falecido. Em uma entrevista à Revista Veja, Muotri comentou os problemas nessas duas opções: “No primeiro caso, os modelos animais são limitados. Apesar de serem ótimos para pesquisar alterações motoras da doença, o comportamento social e cognitivo é difícil de ser estudado. Na segunda alternativa, os tecidos post-mortem chegam aos laboratórios em condições precárias. Além disso, os efeitos e danos causados pela doença já aconteceram. Fica difícil então determinar quais foram os eventos iniciais que originaram o processo patológico”.Assim, o neurocientista brasileiro decidiu inovar e utilizou a técnica de desdiferenciação para formar neurônios a partir de células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs, em inglês). Para isso, fez uma biópsia da pele dos pacientes em estudo e promoveu a desdiferenciação de fibroblastos.



     Feito isso, Alysson chegou a seu primeiro resultado: os neurônios autistas possuíam diversas características que os diferenciavam dos normais, tais como núcleos significativamente menores e um número bastante reduzido de sinapses (observe na figura abaixo, retirada do artigo publicado na Cell, o número de sinapses – pontos vermelhos – de um neurônio normal, a esquerda, e de um neurônio autista, a direita).



    Alysson percebeu, então, que a maior parte dos erros do gene MePC2 era do tipo nonsense mutation (mutações causadas por um gene de parada prematuro). Dessa forma, sua equipe tentou utilizar fármacos que revertessem tal mutação, a fim de que a célula pudesse produzir a proteína com seu comprimento total. Utilizando concentrações específicas de antibióticos aminoglicosídeos, como a gentamicina, a equipe obteve resultados positivos dentro de uma semana, quando perceberam o aumento da proteína MePC2 e do número de sinapses glutamatérgicas. A administração de drogas como o IGF-1 conseguiu reverter o quadro de autismo também nos outros tipos de erros do gene MePC2. O resultado foi animador: os neurônios autistas começaram a se comportar como neurônios normais, ao que Alysson se referiu como uma “esperança de cura possível”.
     Há um único problema: nenhuma das duas drogas pode ser usada em humanos. A gentamicina é tóxica, enquanto que o IGF-1 não consegue ultrapassar a barreira hematoencefálica. Esse problema, porém, não chega a desanimar os cientistas, que sabem que a produção de um fármaco eficiente é questão de tempo.




NOVAS PESQUISAS DO CIENTISTA ALYSSON MUOTRI

     Uma dúvida que se levantou após a publicação desse artigo era se o tratamento proposto poderia ser utilizado nas outras formas do autismo. Chegou-se a criar um clima de desânimo, quando alguns entenderam que a Síndrome de Rett “não era autismo”. Essa conclusão é errada, segundo o neurocientista.
     Um de nossos leitores, chamado Paiva Junior (e desde aqui já expressamos o nosso muitíssimo obrigado pela colaboração!), nos fez a gentileza de encaminhar uma entrevista que teve com o doutor Muotri a respeito dos novos experimentos que a sua equipe vem desenvolvendo. Ao que parece, em 2011 o cientista pretende publicar um artigo semelhante ao publicado em 2010, mas dessa vez utilizando células de pacientes com autismo clássico. Isso poria fim à discussão sobre a aplicabilidade do tratamento às outras desordens do espectro autista (ou pelo menos às com causas genéticas, que são aproximadamente 90% delas).
     Sugiro a todos que leiam a reportagem de nosso amigo Paiva (que será publicada em sua revista “Autismo”) e confiram como foi a entrevista. Enquanto a revista não sai, segue o link de seu site, para que vocês leitores não morram de angústia enquanto esperam novidades a respeito da cura do autismo: http://revistaautismo.com.br/noticias/exclusivo-brasileiro-encontra-caminho-para-cura-de-90-dos-tipos-de-autismo-alem-de-rett. Uma das coisas mais legais ditas ao Paiva Junior foi a respeito das especulações sobre quando o paciente autista tomar o fármaco que o cure. Será que o paciente irá simplesmente “acordar” do estado de autismo ou seu cérebro sofrerá um “reset”, de tal forma que ele tenha que aprender tudo de novo?



   Vou deixar aqui também um vídeo do próprio Alysson Muotri, no qual ele explica como foi o seu experimento. Infelizmente, o vídeo é em inglês. Peço que façam uma forcinha e assistam, pois vale muito a pena!
     Muito obrigado, galera, e até a próxima!





BIBLIOGRAFIA
http://revistaautismo.com.br
www.cell.com
http://revistaepoca.globo.com

2 comentários:

  1. Galera, queria deixar os parabéns! O blog está realmente muito bom. Dinamico, com conteudo e não me deu trabalho nenhum ler os post.
    Tenho certeza que será de muita valia para a comunidades!

    Abraço

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  2. Graças a Deus!Graças a Deus!Graças a Deus!Graças a Deus!Graças a Deus!Graças a Deus!Graças a Deus!Deus abençoe todos vocês!!!!

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